Thursday, April 29, 2010

Restaurante Italiano

Prezados amigos blogueiros e blogueiras, depois do post científico anterior achei melhor aliviar um pouco e soltar o Shrek para novamente divertir vocês. O problema é que ele achou a história a seguir nos meus arquivos de viagem na seção um pouco apimentada. Pensei muito antes de publicá-la, com receio de magoar alguns ouvidos um tanto mais puritanos; porém, como estou lidando com brasileiros crescidinhos e vacinados, decidi correr o risco. Como dizia o poeta, não existe pecado no lado de baixo do Equador! Na dúvida, não leia! Por outro lado, como o efeito colateral é fazer vocês rirem sempre que entrarem em um restaurante italiano acho que vai valer a pena. Menores de idade: favor não lerem na frente dos adultos (eles pensam que vocês não “sacam” as entrelinhas, portanto vamos mantê-los nessa doce ilusão).

Nesta vida de viajante estou sempre me deparando com surpresas de certa forma previsíveis, mas às vezes surge o totalmente inesperado. Quando eu iria pensar que uma ida inocente a um restaurante poderia me levar aos meandros da vida noturna depravada da costa oeste dos USA? Pois foi o que me aconteceu em Abril de 1999.

Estava eu em San Francisco, ou melhor, em Oakland que fica no subúrbio e não é uma área de boa vizinhança, quando, após uma reunião longa e cansativa com meus clientes do Chile e Peru e os compradores americanos em um negócio de 10 milhões de dólares, decidimos que era hora de relaxar.
Já no carro e falando em castelhano, pois estávamos só nós, os latinos, decidimos ir a um restaurante italiano sofisticado. Nessa hora pensei em um daqueles cheios de protocolos, gente vestida elegantemente e desconfortável, e espera interminável por um prato com algumas migalhas todas muito bem arrumadas como a participar de um desfile de carnaval no sambódromo do Rio; porém em quantidade apenas suficiente para alimentar um passarinho. Já eram umas 10 horas da noite e, cansado como estava, eu teria preferido muito mais um rápido Mc Donalds e uma boa cama logo a seguir, mas negócios são negócios e lá fui eu agradar a los muchachos.

Chegamos a um lugar cercado por muitas árvores e jardins, e lá estava o tal restaurante com muitas luzes vermelhas na varanda, compondo uma decoração tipo velho oeste. Estranho, pensei, deveríamos estar indo a um restaurante italiano… Por outro lado, a decoração americana não raro segue padrões muito peculiares assim achei que era de se esperar uma aparência cowboy em uma casa de massas; afinal estávamos mesmo no oeste. Ao entrar surpreendi-me com a penumbra do local, fracamente iluminado por lamparinas nas mesas que mal davam para ver quem estava lá quanto mais saber o que estavam fazendo. Ambiente romântico pensei: o escurinho vai dar para descansar os olhos…

Eu deveria ter desconfiado daquele lugar logo que chegamos pelas luzes vermelhas lá fora e ainda mais quando, já na mesa, um dos clientes tirando o paletó, disse em castelhano que iria pedir ao garçom para agarrar o seu “saco”… achei esquisitice e muito fora de propósito; como poderia isso ser feito sem chamar a atenção dos outros comensais presentes? E os que estavam logo ao seu lado? O que iriam pensar? Certas coisas exigem privacidade e me surpreendi com essa falta de compostura num lugar tido como fino. Assim, por medida de precaução sentei-me com as costas contra a parede, pois nunca se sabe o que pode acontecer; a prudência recomenda defender os "países baixos" sempre que possível.

Depois das preliminares de costume, chegou a hora de pedir a comida, ou pelo menos assim pensei. Veio o garçom, um negão alto e forte, todo sorridente e disse que se não nos importássemos ele iria oferecer coisas melhores que não estavam no menu. Já se vê que tinha ali algo de suspeito, pois se eram boas, deveriam estar no menu, a menos que fossem sobras do dia anterior; ou será que ele tinha algo mais em mente? Concordamos em ouvir suas propostas, e aí começaram as surpresas.

Ele inicialmente perguntou se alguém gostaria de começar com "linguini alla putanesca". Imediatamente olhei ao redor para ver se os vizinhos das outras mesas tinham ouvido semelhante proposta. Sabe, não é que a idéia não me agrade; pode ser que o nome da putanesca seja Mônica e com esse nome sabe-se que existe know-how, pois até presidente dos USA balança, mas é que eu tenho preferências muito específicas por tal coisa e elas de maneira nenhuma incluem um homem - e jamais em público. Perguntei, então, quem iria providenciar a linguini, se era a própria Mônica ou uma amiga dela. O garçom, sem disfarçar, respondeu-me que seria ele, e isso sem se envergonhar do que estava falando; logo vi que é verdade o que se comenta da população gay de San Francisco. Mas oferecer assim tão naturalmente já era demais; de qualquer modo pensei que, se alguém estivesse a fim, tal prática seria feita em local reservado, portanto esperei que, passada a surpresa inicial, voltássemos ao assunto refeição.

Perguntei se não teria outra opção, para ver se ele se tocava, e ele então me disse que se eu não queria "linguini", então que tal um "penne all arrabiata". Bem, com isso ele passou das medidas, pois é claro que estava me ofendendo; além do mais, se não me animei por uma "linguini", é claro que "penne no rabiata" nem pensar. Eu tenho muito zelo pelo meu "rabiata" e lá somente o proctologista tem acesso, ainda assim raramente e com muitas restrições.

Logo vi que não estava num restaurante sério e sim numa casa noturna, e daquelas das mais escabrosas, sem show e que vão direto ao assunto. Comecei a me arrepender de ter sentado na mesma mesa de alguém vindo do Peru (o nome já diz tudo, não e?) e que disse ao garçom que pegasse o seu saco (e eu que pensava que ele não conhecia a área... Como a gente se engana!). Hoje penso que foi essa atitude inicial que animou o negão; sabe como é, uma palavra código e já se sabe o que o freguês quer.

Enquanto pensava, algo que o garçom falou me tirou das minhas divagações: ele estava dizendo "calzoni", "focaccia", "bruschetta", "bruschetta mista"… Tirar o "calzoni" e fazer o que? E eu pensei: como poder haver "focaccia" se a pessoa está "bruschetta", mas eles devem ter os seus segredos… Com certeza têm Viagra disponível. E o que seria uma "bruschetta mista"? Pelo menos deveria ser uma bacanal heterossexual, o que já era um bom sinal, porque de bichas eu já andava cheio.

"Prosciutto!" Exclamou o garçom. É a sua mãe, pensei eu! Onde já se viu ofender o cliente só porque ele não se decide? A seguir fomos agraciados com mais meia dúzia de propostas indecorosas semelhantes que eu não prestei maiores atenções, preocupado que estava em comer logo algo rápido e sair de lá antes que começassem a praticar toda aquela pouca vergonha. É certo que o lugar prometia privacidade; estava envolto em penumbra e nada se via, pois as velas nas mesas pouco faziam para iluminar o salão, mas mesmo assim podiam-se ouvir risos suspeitos de homens e mulheres em outras mesas não tão distantes da nossa. Sabe-se lá o que eles deveriam estar fazendo… Provavelmente toparam algumas das propostas dos garçons…

A pressão do nosso continuava! Ele insistia em que deveríamos querer um "antipasti", ou seja, nos chamou de animais. Um antipasti deve ser o lugar onde se fica antes de ir ao pasto, ou seja: o curral, que é onde o negão deveria estar. Será que não tem garçonetes nesse lugar? Pensei. Pelo menos as ofertas ficariam mais interessantes.

Lá pelas tantas chegamos a "tímbale di funghi" e "fusilli con pollo affumicato". Esse tal de "tímbale" com fungo deveria ser um de pouco ou nenhum uso, o que não é o caso do meu tímbale. Ou seja, não que a freqüência de uso na minha idade seja tanta, mas não dá para criar fungo nem bolor, e isso sem falar em questões de higiene no que sou muito exigente. Quanto ao "pollo affumicato" deveria ser um "pollo" bicha (efeminado), ou se não fosse, então algo muito parecido; só sei que também soava muito suspeito.
Nessa altura achei que os meus companheiros gostariam de ficar para as "linguini", "penne", e "focaccia" o resto da noite, assim, como só tínhamos um carro, sugeri que comêssemos logo alguma coisa, me deixassem no hotel e depois voltassem ou fossem a outro lugar. Parece que não me entenderam muito bem, em todo o caso deu certo, pois logo pedimos algo. Eu então pedi um inocente "spaghetti" que não tem como errar, mas, mesmo assim, o garçom que devia estar chateado comigo perguntou se era com muita ou pouca "salsa di burro". Eu entendi que por certo eu deveria ser mesmo muito burro por não estar querendo as coisas que ele tinha oferecido e resolvi não criar caso; porém recusei o molho dos burros e pedi um com molho de tomate mesmo.

Depois de todo esse vexame, comemos como se nada tivesse acontecido e logo fomos embora. De minha parte eu aprendi; de agora em diante vou evitar más companhias e principalmente convites de ir a restaurantes italianos, pois nunca se sabe o gosto dessa gente.
Maio 1999

Saturday, April 24, 2010

QUANTOS PÊLOS TÊM NA PERNA DA BARATA?

Anos atrás, em um programa cômico do Jô Soares, ele apresentava um quadro que era chamado de “cultura inútil”. Ele comentava coisas muito engraçadas e entre muitos exemplos ele mencionou o título deste post. Vocês sabem a resposta?

Realmente se vocês forem ver, tem cientista para tudo, até aquele que pode explicar sobre baratas, pêlos, etc. Uma boa parte do conhecimento em áreas científicas pode ser considerada inútil para o nosso dia-a-dia, porém para a ciência em geral, nada é desprezado. Desde o grande avanço da ciência, começando em fins do século 19 até os dias de hoje, o acúmulo de conhecimento em todos os campos possíveis não para de aumentar. Hoje se sabe milhares de vezes mais sobre tudo o que se sabia no início do século 20. O problema é que, junto disso, descobriu-se que o que ainda não se sabe também aumentou em milhares de vezes... Assim a ciência é dinâmica. A grande vantagem é que tudo o que se aprende, acaba cedo ou tarde sendo colocado em prática no nosso dia-a-dia sem que percebamos.

Hoje quero passar a vocês um conhecimento geral sobre a ciência do átomo, pois vocês devem ter lido recentemente nos noticiários (30 de março) o sucesso dos primeiros testes feitos no LHC Large Hadron Collider (Gigantesco Colisor de Prótons) e o objetivo do teste que era descobrir o Bóson de Higgs.

Afinal, o que é o LARGE HADRON COLLIDER (GIGANTESCO COLISOR DE PRÓTONS) e o BÓSON DE HIGGS?

O LHC é um laboratório construído a 100 metros de profundidade, na fronteira entre a França e a Suíça. A estrutura completa tem a forma de um anel, construída ao longo de um túnel com 27 quilômetros de circunferência. Agora voces me perguntem, para que gastar tanto dinheiro nisso (seis bilhões de Dólares) e principalmente para descobrir uma “coisa” chamada Bóson de Higgs? (além de testar supersimetria, big bang, etc) Quantos pêlos têm na perna da barata? Cultura inútil? Na verdade o que se busca, é o entendimento das partículas que compõem o átomo e que servirá de base para desenvolvimento de formas de energia alternativa em campos ainda não explorados.

Vamos então entender a perna da barata (espero não cansar vocês; procurem ler até o fim que é interessante.):

Antigamente achava-se que o átomo se compunha apenas de três partículas juntas em quantidades distintas, formando todos os elementos existentes na natureza: prótons com carga positiva e nêutrons sem carga, no núcleo, e elétrons negativos girando à volta. Hoje se sabe que o núcleo na verdade se compõe de 16 partículas, sendo 12 de “matéria” e 4 de “força”. São chamados de quarks e léptons, férmions e bósons. Os prótons e nêutrons na verdade são formados pela combinação de apenas três partículas fundamentais, que se denominam quarks. Atualmente, estão definidos seis tipos de quarks: up, down, charm, strange, top e bottom. Os quarks mais leves são os up e down, aos quais se atribuiram cargas elétricas; são estáveis e formam os prótons e os nêutrons. Dentre as muitas partículas do átomo, temos tambem o méson, chamado de méson mu ou múon e o méson pi ou píon.

Quando você sobe na balança, você mede o seu peso. O peso é o resultado da ação da força gravitacional sobre a massa do seu corpo. Se você for à Lua, como a força gravitacional lá é menor, o seu peso será menor, porém sempre a sua massa será a mesma. Digamos que a massa é a “quantidade de matéria” que o seu corpo tem (Uma pessoa se compõe basicamente de líquido e um pouco de sólido. Se for cremado o resultado sólido do corpo cabe num pacotinho de café de 500g). Essa massa está nos átomos que compõe o corpo. Num átomo, a massa está no núcleo e é diretamente relacionada com o número de prótons e nêutrons. Quando a ciência descobriu que prótons e nêutrons não são partículas, mas o resultado de muitas partículas juntas surgiu um mistério!

O problema é que, quando consideradas individualmente, nenhuma dessas partículas tem massa. Como que a massa pode estar no núcleo se os componentes do núcleo não têm massa? Ou seja, depois de todos os avanços científicos, ainda não se sabe o que dá "materialidade" ao mundo. Se as partículas não têm massa, então elas não são matéria, são energia de diversas formas. O Modelo Padrão, a teoria básica da Física que explica a interação de todas as partículas subatômicas, coloca todas as fichas no Bóson de Higgs, a partícula fundamental que explicaria como a massa se expressa nesse mar de energias. Como Einstein afirmou que matéria é energia (E=mc2), ao se entender o processo e como manejá-lo, teremos aí uma fonte inesgotável de energia.

Sabemos hoje que existem em nosso universo apenas 4 forças fundamentais:
Força gravitacional, força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca.

A força gravitacional é a lei de Newton da Gravitação Universal. A força que puxa você para o centro da Terra e determina o seu peso. Sua generalização relativística é a teoria da Gravitação de Einstein, também chamada de Teoria da Relatividade Geral de Einstein, onde a gravidade é uma distorção do “tecido” espaço-tempo.
A força eletromagnética é a força que atua entre partículas carregadas. Estas incluem força eletrostática, atuando entre cargas em repouso, e o efeito combinado das forças elétrica e magnética entre cargas em movimento relativo. Voces a encontram nos motores e onde passa corrente elétrica, nos condutores em sua casa. Ocorre entre prótons positivos e elétrons negativos provocando atração entre eles por terem cargas elétricas opostas e repulsão de cada um entre si por terem carga de mesmo sinal.
Uma curiosidade muito interessante é que um átomo completo, com elétrons girando ao redor de um núcleo, ocupa um determinado espaço onde a maior parte é espaço vazio. O espaço ocupado pelos elétrons, prótons e nêutrons é muito pouco do total, assim, se eliminarmos o espaço vazio, por exemplo, da mão de vocês, ela irá ficar do tamanho de uma cabeça de alfinete! Então por que não se pode atravessar uma parede com a mão já que quase todo o espaço é vazio? Por causa da força eletromagnética, que impede um sólido de atravessar o outro. É impossivel tocar a parede com a mão; o máximo que se consegue é chegar muito perto até a mão ser repelida pelo campo eletromagnético. Parece um ímã. Vocês não conseguiriam juntar dois ímãs no lado da carga magnética de mesmo sinal!
A força nuclear fraca é responsável por alguns fenômenos na escala do núcleo atômico onde estão os prótons e nêutrons; os condutores da força fraca são gauge bóson massivos chamados de bósons W e Z.
A força nuclear forte encontra-se no núcleo do átomo. Esta força não é relacionada à carga elétrica. Um dos principais efeitos desta força é a forte união dos prótons do núcleo, que continuam juntos apesar de terem a mesma carga elétrica positiva que os repele fortemente. A força forte é mediada por partículas chamadas glúons e atua entre partículas que contém uma "carga de cor”, isto é, quarks e glúons. Ela mantém juntos os prótons e nêutrons. Partículas compostas tais como os nucleons ou mésons são construídas de quarks.

O Bóson de Higgs que está sendo procurado, estaria envolvido nessa força nuclear forte. Ele poderia explicar a massa de todas as demais partículas. O próprio Bóson de Higgs seria algo como um campo de energia uniforme. Ao contrário da gravidade, que é mais forte onde há mais massa, esse campo energético de Higgs seria constante. Desta forma, ele poderia ser a fonte não apenas da massa da matéria ordinária, mas a fonte da própria energia escura que se busca no universo!

Finalmente, como que o large hadron collider funciona? Ele acelera prótons a uma velocidade muito alta de maneira a que eles se choquem. Quando os prótons se chocam no centro dos detectores, as partículas geradas (que eu mencionei no início) espalham-se em todas as direções. Para capturá-las, equipamentos especiais como o Atlas e o CMS que possuem inúmeras camadas de sensores superpostas, deverão verificar as propriedades dessas partículas, medir suas energias e descobrir a rota que elas seguem. O resultado final das análises irá detectar (ou não) o Bóson de Higgs.

Conclusao final: minha conclusão até o momento, é que todas as partículas que formam o átomo são na verdade formas de energia sem massa. O bóson de Higgs deve ser uma outra forma de energia que dá a sensação de massa por interagir com os quarks, assim a matéria como conhecemos não existe; é uma ilusão dos nossos sentidos. Os sólidos, líquidos e gases que vemos e sentimos, assim como luz, radiações e ondas do universo, tudo são diferentes formas de energia. Nao se pode “ver” energia, mas sentir os seus efeitos. Nosso corpo composto de átomos não é matéria; é energia de várias formas, portanto resultado de gradações de energia que existiam antes da nossa existência e estavam “por aí” a nossa volta e no universo em geral. Quando morremos essa energia continua “por aí”, porém parte dela modificada conforme a situação. Como pela termodinâmica a energia não desaparece, sendo todos nós essencialmente energia, também nao existe “morte” e desaparecimento das coisas, e sim estágios de gradações de energia; passamos a ser formas de energia diferentes, obviamente sem a consciência do “eu” animal que nos faz pensar que existimos. Nossa pessoa, como pensamos que somos, desaparece; nossa consciência, que é uma criação do cérebro, também desaparece. Simplesmente deixamos de existir como animais separados e continuamos existindo como energia de outras formas, misturada a outras energias iguais e em paralelo com outras diferentes. Somos parte do todo, do nosso universo, e toda essa energia continuará interagindo constantemente.

Afinal, espero ter podido transmitir um pouco de informação básica sobre a atualidade do átomo, e algo que vocês já podem responder a quem perguntar do que se trata esse negócio de GIGANTESCO COLISOR DE PRÓTONS que saiu no noticiário. Se a informação não for de nenhuma outra utilidade prática, sendo considerada como saber quantos pêlos têm na perna da barata, ao menos vocês poderão começar a xingar seus desafetos agora com palavras mais interessantes e de grande efeito: chamem-nos de quarks e léptons, férmions e bósons. Ao ser ultrapassado no trânsito que tal um “olha aí seu múon!” Ou, aquele cara é um píon ou um quark! Para ofender mesmo, arraze com “esse sujeito é um Bóson de Higgs...”

A seguir algumas fotos do que parece ser uma nave espacial dos “Borg” em “Jornada nas Estrelas”.























Tuesday, April 20, 2010

APRENDENDO A LER

Na minha vida conheci muita gente. Pessoas de todas as camadas sociais e de todos os níveis de conhecimento. Interessante notar que, de todas elas, somente duas eram analfabetas, porém uma delas ainda sabia assinar o seu nome e sabia ler números. A conclusão é que praticamente todos podem ler, mas o que sempre me chamou a atenção é que a grande maioria dessas pessoas em qualquer nível, simplesmente não tem o hábito de ler livros. Muitos lêem jornais e revistas; ou seja, folheam ambos e somente lêem alguns artigos que acham interessante e que não sejam muito longos. Ler de “cabo a rabo” como se diz, acho que muito poucos. Acredito que voces também encontraram a mesma amostragem de gente que eu.

Estive avaliando os motivos alegados pelos que não lêem regularmente: falta de tempo, é cansativo, é demorado, é difícil... e cheguei a uma conclusão. Essas pessoas estão certas! O problema é que a leitura de tudo o que está escrito em cada página, letra por letra como muita gente faz, é mesmo muito cansativo. Eu fiz a experiência e tentei ler uma página. Confesso que me perdi várias vezes quando a sentença era muito longa e em outras tive de reler, pois não coordenei direito o final da frase com o início dela e com a frase anterior. Para resolver o problema da leitura, vou aqui traçar algumas considerações para vocês pensarem e comentarem, favoravelmente ou não. A conclusão espero, é que todos nós aprendamos a ler, ou ao menos a ler melhor.

Minha recomendação: devemos aprender a ler em duas etapas. A primeira é simplificar a leitura, deixando de ler parte do que está escrito e que é supérfluo. A segunda etapa é parar de ler as palavras que restaram e passar a VER essas palavras. Tomem fôlego e vamos começar!

1) Eliminação de palavras:
Ao se aprender a ler as pessoas começam a soletrar. Depois de soletrada, o cérebro aprende a palavra completa. Depois disso associa o significado da palavra ao que está escrito. No processo seguinte são lidas todas as palavras de uma frase simples e novamente o cérebro, após reconhecê-las aprende o significado da frase, seja uma descrição ou uma ação. A maioria das pessoas lê dessa forma e assim o cérebro precisa funcionar da seguinte maneira: o lado esquerdo, o racional, lê e identifica a palavra pela lógica da seqüência das sílabas. A parte traseira (e outras partes) onde são armazenadas as memórias de curto, médio e longo prazo, emocional e etc., identifica o significado da palavra. O lado direito, o emocional, visualiza o significado da palavra. Todo esse processo implica em passar a informação várias vezes pelo córtex cerebral, e ainda assim palavra por palavra. Depois que todas as palavras da sentença são lidas, ou pelo menos a parte onde estão interligadas formando uma idéia, todo o processo recomeça, agora para dar sentido ao conjunto de palavras que foram lidas, operando na seguinte ordem: lado esquerdo, córtex, traseiro, córtex, direito, etc.. Vocês podem imaginar quanta energia é gasta e como uma leitura de uma página pode ser muito demorada e cansativa. Agora imaginem um livro de muitas páginas... é desanimador.

Vamos ler a seguinte sentença: O MENINO CAMINHOU ATÉ O CARRO, ENTROU E SAIU DIRIGINDO PELA ESTRADA AFORA.
Se formos ler todas as palavras fica assim: o-me-ni-no (neste momento o lado esquerdo identifica a palavra menino; a memória identifica que menino significa um jovem do gênero masculino com aspecto e roupa conforme armazenado na outra parte da memória que guarda as memórias emocionais; o lado direito passa a “ver” um menino conforme orientado pela memória, porém modificado conforme o estado emocional do momento); próxima palavra: ca-mi-nhou (agora o lado esquerdo identifica a palavra caminhou; a memória se lembra que significa o ato de caminhar, porém no tempo passado; o lado esquerdo... etc etc) repetindo esse processo palavra por palavra chegamos ao final da frase. O processo a seguir se repete (esquerdo, memória, direito) para toda a frase em conjunto. A conclusão final é dada pelo lado esquerdo de maneira a se manter um sentido lógico, caso contrário o lado direito emocional e intuitivo sem o controle do lado racional pode concluir com um menino sentado dirigindo, um menino flutuando no espaço dirigindo, um menino sentado na capota do carro dirigindo, ou qualquer outra coisa sem muito sentido.

Passaremos agora ao processo de eliminação de palavras:

Vamos eliminar o que está em negrito e em itálico: O MENINO CAMINHOU ATÉ O CARRO, ENTROU E SAIU DIRIGINDO PELA ESTRADA AFORA.

Vocês lendo MENINO CAMINHOU ATÉ CARRO ENTROU SAIU DIRIGINDO ESTRADA, vão chegar à mesma conclusão de antes, sem perder absolutamente nada da mensagem e do significado da frase. Se eu continuar cortando mais, posso simplificar para MENINO CAMINHOU CARRO SAIU DIRIGINDO sem perder a mensagem final. Uma simplificação mais radical pode ser MENINO CARRO DIRIGINDO. Neste caso não sei se ele caminhou ou correu até o carro, mas como se trata de uma sentença solta isso pode ser irrelevante. Em um parágrafo completo o cérebro irá identificar por lógica a ação dentro do contexto. Como o cérebro vai se ater à conclusão final, em todos os casos ele irá visualizar um menino dirigindo um carro.

Conclusão: a sentença
O MENINO CAMINHOU ATÉ O CARRO, ENTROU E SAIU DIRIGINDO PELA ESTRADA AFORA
passou a ser lida com apenas as seguintes palavras
x MENINO xxxxxxxx xxx x CARRO xxxxx x xxx DIRIGINDO xxxx xxxxx xxxx
ou seja
MENINO CARRO DIRIGINDO
ignorando-se o resto.


Quando vocês passarem a simplificar dessa maneira, simplesmente NÃO LENDO NEM VENDO o que pode ser eliminado, vocês irão aumentar em muito a velocidade de leitura. Naturalmente o cuidado a tomar é não eliminar palavras indispensáveis que podem alterar o contexto. Com a prática o cérebro irá fazer essa triagem naturalmente.

O próximo passo é mais interessante:

2) Deixar de LER as palavras e passar a VER as palavras.
Tudo se passa como aprendemos a admirar uma pintura. Não lemos uma pintura; vemos uma pintura e entendemos tudo o que está representado (a menos que seja arte moderna...rsrsrs) então porque não fazer o mesmo com um conjunto de palavras impressas?

Nosso exemplo acima resultou em
MENINO CARRO DIRIGINDO.
Como a memória do cérebro já registrou o significado da palavra menino, ao VER essa palavra vamos passar diretamente para a memória e daí para a visualização da pessoa, não lendo, mas vendo a palavra menino e imediatamente imaginando o que significa. Pensem que MENINO (que vocês podem ler) está escrito assim MENINO (mudei a “font”para webdings, que vocês não podem ler) mas que a memória identifica como um jovem de uns 8 ou 9 anos. Agora vocês entendem o que eu quero dizer como ver e não ler a palavra.
Nesse processo vocês vão ver a frase
MENINO CARRO DIRIGINDO
e imaginar um menino dirigindo um carro.
Façam o seguinte exercício: olhem atentamente a palavra MENINO até que ao olhar para ela, sem ler, vocês estarão VENDO um menino. Experimentem e vão ver que funciona mesmo! Quando conseguirem basta passar a fazer o mesmo com palavras escritas em nosso alfabeto. É PRECISO CONDICIONAR O CÉREBRO A PARAR DE LER... Não precisa parar de ler totalmente todas as palavras, mas pelo menos a maioria.

Sei que aparentemente parece muito difícil, mas é uma questão de treino, igual a ginástica. Comece devagar e vá intensificando com o tempo. Vocês vão se impressionar com os resultados. Como é muito mais fácil ver do que ler, vocês passarão a ver várias palavras ao mesmo tempo e depois várias palavras em mais de uma linha ao mesmo tempo; finalmente toda uma frase em mais de uma linha ao mesmo tempo. A “leitura” de um livro irá se transformar em um filme onde você vê o que se passa e o processo é muitíssimo mais rápido. Essa fase final que eu chamarei de etapa 3 é semelhante ao processo de dirigir um carro depois que se adquire experiência. Quem dirige sabe que não pensa no ato de dirigir enquanto dirige. Você não tem que pensar em qual o pé que pressiona o acelerador, a embreagem, o freio, qual mão troca de marcha, quando, etc, etc. Todo o processo é realizado inconscientemente cuja vantagem é deixar o cérebro livre para pensar em outras coisas e tornar o ato de dirigir menos cansativo e sujeito a reações rapidíssimas que seriam muito lentas se feitas conscientemente, principalmente em casos de emergência. A leitura precisa chegar a esse estágio; automaticamente sem incomodar a parte consciente do cérebro e, portanto, a uma velocidade muito alta, impossível de se alcançar se tentarmos fazê-lo conscientemente.

Afinal resolvemos o problema do tempo e do cansaço da leitura: paramos de ler e agora estamos “vendo” um livro.

Exercício número 2: leiam uma pagina qualquer pelo processo convencional e cronometrem o tempo. A seguir comecem a utilizar das técnicas que eu falei e marquem novamente o tempo. Repitam o exercício várias vezes durante uns dois meses, depois me digam se o tempo melhorou. Caiu pela metade? O objetivo é reduzir para um décimo do tempo...

Vocês concordam comigo? Discordam? Tem outras sugestões? O Shrek está aberto ao diálogo. Se precisarem de mim, estarei tomando banho no pântano; procurem-me por lá.
Nota 1: caso o lado esquerdo do seu cérebro esteja reclamando da frase que utilizei para o exercício, saiba que eu a ouvi na TV, no programa de perseguições da polícia de trânsito. Depois de muita perseguição atrás de um carro, ele parou e de dentro saiu correndo um menino de uns 9 anos. O pai foi multado...
Nota 2: fiz o possível para colocar os acentos gráficos nas palavras utilizando teclado americano que não os possui. Sei que ainda assim faltou acento em várias palavras, mas peço vênia e que não se importem com isso; dá muito trabalho!

Thursday, April 15, 2010

TEATRO MUNICIPAL DE “PITISBURGUI” APRESENTA: A MORTE DO BOI

Pois o meu boi morreu!
Mas o distinto possuía um boi?
Um cinza, um Ford Taurus!
E como foi?
Tudo começou com o avião do meu primo!
O seu primo tem um avião? Ela deve ser muito bonita, não é?
Não é isso, trata-se de uma máquina!
Já entendi, é um modelo profissional; loura ou morena?
Pé no chão, criatura, estou falando de um avião mesmo, o que voa!
Ah! Um avião caiu em cima do seu boi, o Taurus...
Mais ou menos; melhor começar do começo senão vamos ficar nos desentendendo por muito tempo...

Era uma vez um primo que vivia numa fazenda e, ao contrário dos outros meninos normais da região que possuíam cavalos, vacas, galinhas, colecionavam coquinhos, caroço de manga e outras coisas típicas, resolveu colecionar aviões. Tudo muito natural, pois aviões são o que mais se vê em fazendas, não é? Tem avião no pasto, na roça, no galinheiro, em cima das árvores, etc, etc...

Na verdade são aeromodelos. Começa-se por cortar, armar e colar os pauzinhos e depois recobrir com um papel devidamente esticado com um verniz especial e finalmente pintar com esmero. Não havendo interrupções, ao cabo de um mês ou dois de trabalho tudo está pronto para o vôo inaugural.

Nesse grande dia, o primo com os dedos das mãos recobertos por cola, verniz e outros dejetos permanentemente alojados em baixo das unhas e por toda a mão (e na sobrancelha – quando foi retirar o suor com a mão cheia de resíduos de cola) chama a família para o terreiro e, em meio ao suspense geral, começa a girar a hélice ao contrário batendo rapidamente com o dedo para dar a partida no motor. Num desses golpes, inesperadamente o motor pega, a hélice então gira de volta e bate no dedo parando a seguir, não sem antes provocar o primeiro corte. Meia hora mais tarde, muitas tentativas, vários cortes e esparadrapo nos dedos, o motor está girando e o avião pronto para decolar. Arremete e levanta vôo, espatifando-se em seguida na primeira árvore.

Realmente sempre admirei esse hobby que premia o infeliz que passou tanto tempo trabalhando no projeto, oferecendo-lhe no final muitos segundos de vôo, após os quais, vai ser aumentada a sua coleção de sucatas. Sendo otimista, sempre é bom ter partes sobressalentes para o próximo modelo. Mas, pera aí; estamos nos tempos do internet e não mais do estilingue, assim meu primo evoluiu de modelos; eles agora já vem semi prontos, são muito mais caros e não batem mais em árvores; preferem se espatifar no chão mesmo, com grandes efeitos, inclusive reproduzindo prejuízos proporcionais aos bons acidentes dos aviões de verdade. Sabe como é, um bom modelo precisa ser igual ao de verdade em tudo, não é?
E foi assim, nesse processo, que ele começou a formar sua coleção: comprando os modelos e peças em São Paulo para levá-los para a fazenda em Laranjal Paulista. Logo teve a idéia de comprar as peças diretamente do fabricante nos USA, pedindo para entregar em minha casa aqui em Pittsburgh. Eu, na primeira oportunidade de viajar para o Brasil as levava para ele. Coisas simples e pequenas, de caber no bolso ou na mala de mão. Com o tempo me acostumei com as caixas que chegavam de tempos em tempos, porém agora, como acontece com a criação em qualquer fazenda, foram pouco a pouco aumentando em quantidade e tamanho, mas, como a gente acaba se acostumando, não nota a alteração.

Um dia ele me pediu se eu podia levar um modelo especial, um pouquinho maior que o usual. Eu pensei logo em um, digamos bezerro, mas na verdade estávamos falando de um touro de argola no nariz e bufando, mas isso só descobri depois de me encontrar com o touro no meio do pasto e longe de qualquer árvore...

Pois te conto. Um dia, ao chegar à noite em casa e abrir a porta não pude entrar, pois haviam construído uma “parede” atrás da porta. Tive de dar a volta pelo jardim, pisar no cocô do cachorro e bater no vidro para chamar a atenção das minhas filhas. Ao longe, através do corredor, vi, bloqueando a porta, o que deveria ser um obelisco egípcio, devidamente embalado. Pensei em algum presente da minha amiga Mona AbdelRahman, do Cairo, mas os obeliscos ficam no jardim e não dentro da casa; onde estava havia o perigo de furar o piso indo atravessar a capota do carro na garagem. Perguntei para minhas filhas porque haviam bloqueado a porta com a caixa, e elas me disseram que foi o maximo que puderam fazer, já que necessitavam de mais uma pessoa para mover a caixa até a garagem. Depois de mais essa tarefa fui ver o que era e descobri ser o tal avião, um lindo modelo de Cessna com dois motores, que, aliás, chegaram separados com mais algumas peças em umas cinco outras caixas – essas pequenas, claro. Qualquer caixa perto do obelisco seria sempre pequena. Foi quando então fiquei de pé ao lado da caixa e olhei para cima, para avaliar a altura... Vejamos: quase dois metros de altura e uns 60 cm de cada lado. Realmente, não é que a caixa era mesmo grande?

Durante o mês seguinte fiquei trabalhando no projeto de levar o avião até São Paulo. Confirmei com a American Airlines que ele poderia passar pela porta e entrar no compartimento de bagagem do meu primeiro vôo – um jato da Embraer – e nos containeres especiais dos jatos grandes das outras conexões. A etapa seguinte foi solucionar como chegar até o aeroporto.

Logo de cara desisti de tentar o Taurus: ele se encolheu com medo da caixa e se escondeu na garagem fingindo-se de morto. Tentei colocar a caixa dentro do outro carro (um Impala tamanho grande). Entrou no banco de trás, mas não podia fechar as portas. No da frente nem pensar, teria que arrancar a porta, afinal depois de muitas tentativas concluí que teria que cortar o teto do carro, assim voltei ao porta malas. Eu ja havia começado por essa opção e a caixa nem passou pelo vão entre a tampa do porta malas e a base, porém pensei em colocá-la em ângulo formando 45 graus com o chão, deixando a tampa do porta malas aberta. O carro ficou parecendo um guincho com a maior parte da caixa saindo por trás dele. Quando larguei quase caiu no chão. Resolvi o problema amarrando uma corda na extremidade que ficava pendurada para fora e passando por dentro do carro através dos vidros abertos do banco detrás. Deu certo e então completei a amarração e larguei o carro aberto com caixa e tudo para passar o resto da tarde e a noite no driveway em frente à calcada. Nao se preocupem, por aqui nao há assaltos.

Na manhã seguinte tentei colocar as minhas malas – afinal precisava levar roupas e minha bagagem – e só consegui lugar no banco da frente. Fui dirigindo devagar até chegar ao estacionamento do aeroporto e depois de mais dificuldades para retirar a caixa e colocá-la no ônibus que leva até o terminal, cheguei ao check-in. Essa parte foi fácil: como conheço todas as funcionárias da American Airlines elas ao verem a caixa comecaram a fazer piadas e me deixaram despachar sem cobrar nada. Só perguntaram se eu havia confirmado que passaria pela porta de bagagem do avião e como disse que sim, nao houve mais problemas.

Para terminar essa história, concluo que ao chegar em São Paulo, a caixa foi a única coisa que coube no carrinho até a alfândega; eu tive que arrastar as malas na mão. Quem estava longe so via a parte de cima da caixa passando pelo terminal. O funcionário inocentemente perguntou: é brinquedo? Eu mais do que depressa concordei, e mantive em segredo o valor do tal “brinquedo” de mais de dois mil Dollars... Gringo cretino! deve ter pensado o funcionario brasileiro ao ver meu passaporte, mas arranhou um inglês me dizendo “dis uêi, dis uêi” e me apontou a porta de saída, e assim passei impunemente. Meu primo foi me buscar de caminhonete, e a caixa quase nao coube. Até hoje ele não entende como consegui colocar no meu carro. Honestamente, nem eu.

De agora em diante por mais que os amigos brasileiros me encomendem alguma coisa (como sempre fazem) e perguntem se não vai atrapalhar, penso no avião, sorrio e digo que não. É impossível ter algo maior do que aquela famigerada caixa.

Monday, April 12, 2010

O Bebedouro e Eu

Cumprindo o prometido, o Shrek agora vai divertir voces, mesmo porque, se eu colocar muito tema sério vou perder a audiencia... Trata-se de uma situação real ocorrida uns anos atrás, mas engraçada; espero que gostem.

Na minha infância e juventude, eu, assim como todos os animais, quando tinha sede tomava água. Essa parece ser uma informação óbvia, porém há uma série de particulares nesse simples ato da natureza que justifica minha observação.

A água que tomava, principalmente nos tempos de fazenda perambulando pelos pastos e matas afastadas, era a que fosse disponível em forma liquida, de preferência nas chamadas nascentes, cuja única vantagem era serem bem mais frias que o ambiente, porém sempre em lugares de difícil acesso, apertados e cercados de mato ao redor, com algum matinho também dentro.
Nesses lugares, é claro, tinha que competir com os muitos girinos, caranguejos, lambaris, baratas d’água, lacraias e muitas outras formas de vida que se podia ver e evitar. Naturalmente o que não se podia ver, como os milhões de microorganismos, protozoários, unicelulares e outras criaturas do gênero, não era motivo de preocupação. Creio que se retirasse toda essa forma de vida dificilmente sobraria alguma água em sua forma pura. O que não se vê não se teme e assim eu e os animais crescemos fortes e saudáveis.

Com os anos aprendi que era muito importante utilizar-se de um filtro. O filtro tem a propriedade de eliminar todas as partículas sólidas que não tem nenhum efeito nocivo para o organismo, pois são eliminadas naturalmente, mas deixa ficar os componentes químicos e bactérias que fazem mal. Como todo mundo, ao crescer passei a tomar água filtrada porque a água sem filtrar, diziam, agora faria mal. Assim pregava a sabedoria adulta e assim deveríamos fazer.
Mais tarde, já nem essa água servia, pois tinha que ser mineral e engarrafada, provavelmente em garrafas de plástico contaminadas, mas engarrafadas mesmo assim e, portanto, boas para o consumo. E assim tornei-me adulto bebedor de água mineral porque de outra forma faz mal (a menos que você seja jovem e não saiba dessas coisas).

Nesse processo de aculturamento paranóico, encontrei-me recentemente no México com o dilema crítico de tomar água. Por certo tinha que ser mineral (será que as outras são “vegetais”? Com certeza são muito “animal”) e então saí em busca de um bebedouro de botijão, ignorando todas as torneiras que encontrei pelo caminho.
Estava eu no escritório de nossa subsidiária e caminhando pelos meandros das salas e cubículos finalmente encontrei: na minha frente estava um belo bebedouro, daqueles com botijão de vidro de cabeça para baixo e duas torneiras por onde deveria sair o precioso líquido, a custo provavelmente cem vezes maior do que seu real valor obtido na fonte.

Trata-se de um dispositivo que desafia a imaginação, a começar pelo fenômeno inexplicável de como colocar um botijão com pelo menos 20 litros de água de cabeça para baixo por sobre o aparelho sem que ela se derrame no processo. Fiquei imaginando se por acaso, depois de retirar a tampa do botijão, a pessoa (que precisa ter muita força) antes de girar a boca do botijão para baixo, dá nele um balanço para cima de maneira a enganar a água que então tenta cair para cima em direção ao fundo do recipiente e assim, com o gargalo já para baixo o esperto cidadão coloca o botijão no seu devido lugar. Tudo isso, é claro muito rapidamente. Devem ocorrer muitos acidentes, pelo menos nos casos quando a água não se deixa enganar assim tão facilmente ou talvez por faltar ao atendente músculos suficientes para o devido balanço para cima, ou até mesmo porque, como se costuma dizer, shit happens. Porem, penso eu, apesar da molhadeira, eventualmente alguma água sobra no botijão que acaba gloriosamente empinado sobre a base do dispositivo.

Após essas considerações, observo que, no dispositivo à minha frente, em baixo existem duas torneiras. Pelo menos nisso meu raciocínio operou mais rápido ao concluir que devem ser para sair a água. Lembrei-me então de que em outras maquinas semelhantes essas torneiras são de cores diferentes: uma branca, outra azul. Na verdade nem sempre esse é o padrão usual e as cores podem variar, deixando por conta do infeliz usuário a tarefa de adivinhar qual a gelada e qual a de temperatura ambiente (alternativas essas é claro, totalmente aleatórias e absolutamente assumidas já que não há qualquer tipo de indicação, podendo ser inclusive alternativas de quente ou fervendo, ou mesmo gelada ou congelada). Porém de uma coisa eu estava certo, sendo de cores diferentes, uma deveria ser o oposto da outra e daí por diante é tarefa fácil para qualquer freqüentador de Las Vegas.

Nesse ponto observei que a cor era vermelha. Coisa inusitada, pensei, pois vermelho geralmente indica perigo ou pelo menos alerta! Será que por ali sairia água contaminada? Radiativa talvez? Não, raciocinei, pelo menos não num escritório tão inocente quanto o nosso, mesmo porque não soube de nenhuma baixa no escritório por razões de envenenamento. Decidi, então, ir em frente e me aproximei das torneiras, das duas, as únicas duas que haviam por ali, as duas vermelhas… Procurei por outras de outras cores, mas não, aquelas eram as únicas, e do mesmo tom de vermelho, dissipando, portanto, todas as minhas esperanças de alguma diferenciação de pelo menos um vermelho claro e um vermelho escuro.
Resignado, procurei pelo copo disposto a tentar a sorte mesmo sem nenhuma cigana por perto. Não encontrei. Digo, não a cigana, mas o copo; simplesmente não havia copos nem nas adjacências nem nas imediações. Nada, niente, nicht. Será que deveria colher a água com a mão sem derramar? Estava muito baixo para aplicar a boca e muito vulnerável para não ser flagrado em tão deprimente ato anti-higiênico, e assim vi-me em total impasse.

Em minhas andanças pelo mundo há muito que concluí ser uma tremenda injustiça o que nós brasileiros fazemos com os portugueses em relação ao preconceito com que imputamos a eles nossas melhores piadas, porém, a menos que os mexicanos sejam portugueses ou sejam deles descendentes, face ao presente dilema em que me encontrava, decidi que, daí em diante, decididamente iria substituir os portugueses de minhas piadas por mexicanos.

Retornando ao famigerado bebedouro, que por certo estava rindo de minhas aflições, decidi voltar pelo caminho de onde tinha vindo e, memorizando o complicado trajeto para encontrá-lo novamente, achei afinal um copo. Era um de plástico, daqueles bem finos, super finos, absurdamente finos que quando se põe qualquer liquido dentro tombam ou correm por sobre a superfície como se a fugir do líquido e, além disso, amassam totalmente na mão dos incautos que tentam segurá-lo, derramando o seu conteúdo e molhando a tudo e a todos. Penso que o fabricante é sádico ou o copo tem outras utilidades que não seja a de colocar liquido dentro, mas muita gente pensa que é para colocar liquido e por isso estava lá. Bem, eu já estava preparado para mais esse desafio e assim segurei cuidadosamente esse único copo que havia e voltei para a máquina para terminar meu complicado projeto de tomar água. Ah meus tempos de infância, como a vida era mais fácil! Agora entendo perfeitamente as muitas observações do meu pai a esse respeito.

Eis que me encontro de volta defronte à máquina e as suas duas únicas torneiras vermelhas. Trata-se de um jogo de azar e minhas chances são de 50%, por isso é melhor não jogar alto e começar com um pouco de água para ver o resultado antes de se comprometer com muito, pois, como não havia onde jogar caso o liquido fosse indesejável, qualquer erro seria fatal.

Arrisquei e perdi!

A água fervente que saiu estava tão quente que por algum fenômeno insondável devem tê-la aquecido acima dos 100 graus Celsius permitido pela química, pois imediatamente derreteu o copo. Por curiosidade, pois não me restavam mais copos, experimentei a outra torneira vermelha; como não poderia deixar de ser, a água que caiu no chão era gelada…

Frustrado, passei pela primeira pia que encontrei e, com a mão, bebi a famigerada água. Que se danem os adultos e seu complicado mundo.

Eduardo Ulhoa Cintra, Agosto de 2001

Tuesday, April 6, 2010

THE GREATEST SHOW ON EARTH

Esta é a minha primeira publicação oficial neste meu blog, para tanto eu busquei um tema que tivesse a ver com um início: o início de nossa vida neste planeta; a evolução das espécies.
Há quem não aceita ter parentesco com os aborígenes da Austrália; acontece que todos os humanos vieram da África. Por acaso descendemos dos macacos? Claro que não; não podemos descender de nossos irmãos, de nossos contemporâneos; apenas de nossos pais e ancestrais comuns. Temos ligação mais próxima com os ratos do que com os porcos. Somos parentes em tempos longínquos dos besouros. Qual nossa conexão com um brócolis? Os vegetais e animais tem origem comum no inicio da vida. Qual nossa relação com uma pedra? Todos os elementos com numero atômico maiores que o do Hidrogênio foram criados em estrelas e em explosões de estrelas gigantes chamadas Supernovas…

Observo com freqüência a reação negativa das pessoas a temas que desconhecem. Parece sem sentido ser contra sem saber do que se trata, mas essa atitude é muito comum em relação a pessoas e obras. Pessoas criticam outras sem saber os motivos que as levaram a fazer o que fizeram. Muita gente não gosta de muitas coisas porque “acham” que não são boas. O que a ciência já descobriu sobre a origem das espécies desde que Darwin publicou seu trabalho pioneiro sobre este assunto em 1859 é impressionante, porém muitas pessoas preferem permanecer desinformadas; seja por que ouviram dizer que contradiz suas crenças ou por qualquer outra razão não explicada. Por isso aceitam ficarem proibidas pelos outros ou por decisão própria de ler a respeito. Equivale a dizer: sou contra; não sei bem porque, mas sou contra.

Dizer se acredita ou não em evolução das espécies é como dizer se acredita ou não na existência do sistema solar, no afastamento contínuo das galáxias ou nas leis da termodinâmica e demais leis da física. Esses assuntos não são para se acreditar ou não; são para se conhecer ou não e eventualmente concordar ou não, pois sendo ciência não constituem crença, mas conhecimento com base em teoria comprovada por experimentos e evidências físicas. A ciência está sempre pronta a revisar suas teorias quando existem discordâncias e neste caso novas evidências são apresentadas com o objetivo de se entender melhor o tema em questão. Não existe ciência estática; ela é dinâmica e a ciência de hoje busca estar solidamente apoiada em evidências atualizadas e comprovadas.

Creio estar certo quando escolhi este tema como sendo um que desperta grande curiosidade popular e freqüentemente é tema de debates calorosos como, por exemplo, ao se discutir o currículo da cadeira de ciências nas escolas dos nossos filhos. Falta conhecimento, e em busca de uma fonte que atendesse essa necessidade com linguagem voltada ao público leigo, encontrei a seguinte obra:

O Maior Espetáculo da Terra - As Evidências da Evolução
“The Greatest Show on Earth – The Evidence for Evolution”
de Richard Dawkins

Recomendo a todos vocês lerem essa obra pelas duas razoes fundamentais que vou enumerar:
1) Entendimento claro da teoria da evolução das espécies e das evidências científicas em que ela se baseia.
2) Aquisição de conhecimento científico básico de temas e expressões freqüentemente mencionados em jornais, revistas, na mídia em geral e em conversas informais

Após o término da leitura, vocês receberão um bônus: o conhecimento básico do que significam as seguintes coisas: fósseis, Australopithecus e hominídeos; domesticação por mutações de animais e plantas em curto prazo; mutação, influência do meio ambiente e seleção natural; limitação de tamanho em animais e plantas; alterações em órgãos e membros, deficiências orgânicas, presa e predador, teodicéia; a dependência de todas as formas de vida da energia solar; o átomo, seus componentes, isótopos, reações químicas e catalisadores; medição do tempo pelo processo atômico radioativo, pelo argônio 40, pelo carbono 14 e espectrometria, pelos estratos das rochas sedimentárias, pelas estrias em árvores, pela hibridização do DNA e processo de similaridade genética, divisão dos períodos em Cambriano, Devoniano, Carbonífero… Triássico, Jurássico, etc; DNA, RNA e genes; bactérias e vírus; proteínas, aminoácidos e enzimas (vitaminas); células e invaginação, células genéricas (do embrião) e sua transformação em especializadas (durante seu desenvolvimento); placas tectônicas, movimentação do magma; e outros.

Não se assustem com essa lista, nem desistam de ler porque ela parece muito “científica”; a informação apresentada é básica, porém com detalhes suficientes para que haja um bom entendimento por um leigo no assunto sem a necessidade de um estudo científico aprofundado. Se alguém quiser ir além basta procurar livros especializados. Vocês vão gostar de aprender tudo isso com a leitura de apenas um livro.
A leitura em si é agradável e muito didática; garanto que o livro não é “chato”; vocês vão gostar. Recomendo utilizar todos os muitos intervalos disponíveis para tanto: salas de espera, recreios, minutos antes e depois de refeições, antes de dormir, etc. Cada 5 minutos de leitura serão muito bem aproveitados.
Boa sorte e divirtam-se; bem vindos ao mundo da ciência!
Eduardo

Thursday, April 1, 2010

Paradigma

Paradigma
DEVEMOS MUDAR DE OPINIÃO?

Encontramos no dicionário Houaiss a seguinte definição de paradigma: “um exemplo que serve como modelo; padrão”; eu me refiro a ele como uma referência que temos e que ampara nossas convicções.

Muitos anos atrás, no Brasil, eu assisti a um filme sobre mudanças de atitude que narrava a seguinte historia real (que vou resumir): O escritor americano Lauren Eisely estava de ferias em uma cidade costeira e costumava ir à praia para buscar inspiração. Um dia, depois de uma forte tempestade durante a noite, indo de manhã à praia, ele observou que um jovem estava exercendo uma atividade inusitada. Ele apanhava estrelas do mar que haviam ficado encalhadas na areia sêca devido à tempestade, corria até a água e as arremessava longe; a seguir, sempre correndo, retornava à areia e apanhava mais estrelas, e repetia a operação.

Lauren então se dirigiu ao jovem e perguntou-lhe o que estava fazendo. Este retrucou que estava salvando as estrelas do mar, pois logo o Sol ficaria muito forte e as mataria. Sorrindo para consigo diante da ingenuidade do jovem, o escritor, do alto de sua experiência de vida, disse-lhe que o que ele estava fazendo não faria nenhuma diferença, afinal a praia era muito grande e estava coalhada de estrelas que certamente iriam morrer. O jovem não poderia salvá-las a todas.

O rapaz parou um pouco e sem responder correu, apanhou uma estrela e a arremessou ao mar; depois disso foi ao encontro do escritor e disse-lhe: “fez diferença para essa estrela”. O escritor ficou estupefato com essa resposta. Ele escreveu o seguinte: “I walked away and kept walking for a long time. Then I returned to the boy who was still there, picking up and throwing the starfish into the sea. I silently picked up a starfish and threw it into the sea. And we did this together for a long time.” (ele refletiu por um tempo, voltou e passou a ajudar o rapaz a jogar as estrelas no mar).

Minha intenção ao mencionar a historia é indicar o paradigma e a conseqüente mudança de atitude. O paradigma para Eisely era que, se não se pode mudar significativamente os fatos então não vale a pena fazer nada, pois não faz diferença. Depois da experiência na praia, ele o substituiu por outro paradigma: seja o que for que você fizer, mesmo que muito pouco, sempre vai fazer diferença para quem está envolvido. Mudar de opinião não é sinal de fraqueza, de falta de convicção, de indecisão; pelo contrário, é sinal de que se aprendeu algo que melhorou o conhecimento anterior.

Todas as pessoas têm opinião formada sobre tudo o que sabem. Naturalmente elas discriminam os outros que divergem de suas opiniões. Vemos então discussões onde um não ouve o outro, ao contrário, cada um busca convencer o outro de que são as suas opiniões que estão certas e não as dele. Muito comum quando alguém está expondo uma opinião que não concordamos é não prestar atenção ao que essa pessoa está falando e sim enquanto ela fala, ficar pensando na resposta que vamos dar contrária ao que está sendo dito.

A atitude correta é escutar atentamente e indagar como essa pessoa chegou a conclusões tão diferentes das nossas. Sempre aprendemos com isso e o resultado é inevitavelmente um dos três: 1) a pessoa está errada, pois as referências apresentadas não são tão convincentes quanto as nossas, portando reforçamos nossa opinião; 2) a pessoa está certa e as nossas referências não se sustentam diante do que foi apresentado, então mudamos de opinião, ou 3) algo intermediário e então corrigimos e aprimoramos nossas opiniões.

Pittsburgh, Fevereiro 2010
Eduardo Ulhoa Cintra