Paradigma
DEVEMOS MUDAR DE OPINIÃO?
Encontramos no dicionário Houaiss a seguinte definição de paradigma: “um exemplo que serve como modelo; padrão”; eu me refiro a ele como uma referência que temos e que ampara nossas convicções.
Muitos anos atrás, no Brasil, eu assisti a um filme sobre mudanças de atitude que narrava a seguinte historia real (que vou resumir): O escritor americano Lauren Eisely estava de ferias em uma cidade costeira e costumava ir à praia para buscar inspiração. Um dia, depois de uma forte tempestade durante a noite, indo de manhã à praia, ele observou que um jovem estava exercendo uma atividade inusitada. Ele apanhava estrelas do mar que haviam ficado encalhadas na areia sêca devido à tempestade, corria até a água e as arremessava longe; a seguir, sempre correndo, retornava à areia e apanhava mais estrelas, e repetia a operação.
Lauren então se dirigiu ao jovem e perguntou-lhe o que estava fazendo. Este retrucou que estava salvando as estrelas do mar, pois logo o Sol ficaria muito forte e as mataria. Sorrindo para consigo diante da ingenuidade do jovem, o escritor, do alto de sua experiência de vida, disse-lhe que o que ele estava fazendo não faria nenhuma diferença, afinal a praia era muito grande e estava coalhada de estrelas que certamente iriam morrer. O jovem não poderia salvá-las a todas.
O rapaz parou um pouco e sem responder correu, apanhou uma estrela e a arremessou ao mar; depois disso foi ao encontro do escritor e disse-lhe: “fez diferença para essa estrela”. O escritor ficou estupefato com essa resposta. Ele escreveu o seguinte: “I walked away and kept walking for a long time. Then I returned to the boy who was still there, picking up and throwing the starfish into the sea. I silently picked up a starfish and threw it into the sea. And we did this together for a long time.” (ele refletiu por um tempo, voltou e passou a ajudar o rapaz a jogar as estrelas no mar).
Minha intenção ao mencionar a historia é indicar o paradigma e a conseqüente mudança de atitude. O paradigma para Eisely era que, se não se pode mudar significativamente os fatos então não vale a pena fazer nada, pois não faz diferença. Depois da experiência na praia, ele o substituiu por outro paradigma: seja o que for que você fizer, mesmo que muito pouco, sempre vai fazer diferença para quem está envolvido. Mudar de opinião não é sinal de fraqueza, de falta de convicção, de indecisão; pelo contrário, é sinal de que se aprendeu algo que melhorou o conhecimento anterior.
Todas as pessoas têm opinião formada sobre tudo o que sabem. Naturalmente elas discriminam os outros que divergem de suas opiniões. Vemos então discussões onde um não ouve o outro, ao contrário, cada um busca convencer o outro de que são as suas opiniões que estão certas e não as dele. Muito comum quando alguém está expondo uma opinião que não concordamos é não prestar atenção ao que essa pessoa está falando e sim enquanto ela fala, ficar pensando na resposta que vamos dar contrária ao que está sendo dito.
A atitude correta é escutar atentamente e indagar como essa pessoa chegou a conclusões tão diferentes das nossas. Sempre aprendemos com isso e o resultado é inevitavelmente um dos três: 1) a pessoa está errada, pois as referências apresentadas não são tão convincentes quanto as nossas, portando reforçamos nossa opinião; 2) a pessoa está certa e as nossas referências não se sustentam diante do que foi apresentado, então mudamos de opinião, ou 3) algo intermediário e então corrigimos e aprimoramos nossas opiniões.
Pittsburgh, Fevereiro 2010
Eduardo Ulhoa Cintra
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11 comments:
Eduardo, escreva mais, é muito bom ler textos inteligentes. Algumas vezes eu leio seus comentários no blog da Lu e, na minha opinião, eles não devem ficar somente ali pois você tem muito a compartilhar.
Dou o maior apoio em relação ao seu blog e vou virar leitora assídua (quando meu tempo ainda corrido me permitir). Não precisa escrever todos os dias, não precisa seguir nenhum tipo de regra e, como a Lu falou, manter um blog não é obrigação... deve ser feito por prazer. Portanto, escreva e compartilhe quando sentir vontade e garanto suas colocações e experiências auxiliarão muitas pessoas.
Belo post!
Abraços
Ola Eduardo,
Seja bem vindo ao mundo dos blogs.
Que esse nao seja o seu primeiro e último post e que seja o começo de muitos outros que virao. O gol é um por dia...nem que seja um post de uma frase.
Sempre gostei de seus comentários la no blog da Lucia.
To voltando pra ler mais.
Bjos,
me
Que delicia de texto. Cheguei aqui atraves do blog da sua Filhota. Ja adorava ler seus comentarios pra Lucia, legal agora poder ler seus textos.
Keep writing!
Eduardo, eu fui uma pessoa que já comentou no blog da Lucia como acho bonito o seu jeito carinhoso de escrever pra ela e a amizade de vocês. Tenho um filho de 3 anos e agora entendo melhor a força do amor dos pais pelos filhos.
Muito sucesso pra você, pros seus projetos, enfim, pra sua vida em geral. Eu adoro os Estados Unidos e um dia vou morar aí também, se Deus quiser!!!!
Boas vibrações
Simone
Texto ótimo de ler :)
Continue escrevendo mais e mais.
Um abração e seja bem vindo.
Texto bem profundo :)
Veja, seus seguidores estão aumentando.Bem-vindo ao mundo dos blogueiros. Sempre aprendo com opiniões diversas as minhas. Abç, Mary.
Obrigado pelos comentarios, finalmente estou me familiarizando com o blog; a Lucia esteve me apresentando as diversas ferramentas disponiveis e ja estou aprendendo.
Abraco a todos
Eduardo
Eduardo,sou Lucia de BH, MG, Brasil, achei lindo seu texto e o que mais me chamou a atenção é que combina com o que eu sempre repeti, copiando Raul Seixas: "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".
Tenho um carinho especial pela minha xará e Al, e parece que conheço todos vcs.
Pode continuar vc ganhou mais uma seguidora.
Abraços.
E ja estamos esperando por mais textos e posts!!!! Love, Lu
Eduardo, estou começando "do começo", lendo seu primeiro post.
Obrigada pelo convite para vir conhecer seu blog. Com certeza vou gostar muito, pois pessoas inteligentes são sempre benvindas na minha vida.
Sou meio avessa a mudanças mas não sou "burra" para não entender o que me é ou não conveniente. Este texto é um ótimo exemplo de que devemos viver de acordo com o que pensamos, não o que nos foi imposto.
Benvindo ao "mundo bloguístico" (cada dia aparece uma palavra nova para blog, que até já é verbo! Então, vamos blogar! rsrsr)
Abraço!
(Coincidentemente também sou Lúcia e moro em BH, como a comentarista acima)
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