Você discrimina? Claro que sim! Todas as pessoas discriminam, sem exceção. Não acredita? Então vamos a mais um tema polêmico para atiçar a discussão. Tomando carona no tema da escravidão e preconceito contra os negros neste mês, quando se celebra a libertação dos escravos no século 19, vou expor algumas idéias que estão relacionas com o título, os problemas e possíveis soluções.
Discriminação e preconceito se traduzem em comportamento; ou seja, como reagimos em relação aos outros humanos. Essas reações tanto podem ser apenas mentais, apenas físicas, ou ambas.
A discriminação é uma reação normal a todos a quem consideramos diferentes e que podem nos causar desde um certo mal estar até rejeição total. Eis como as classifico:
Discriminação forte: Exemplo: contra pessoas violentas, grosseiras, malfeitores, estupradores de crianças, assassinos, etc. Todos os que nos causam rejeição total e absoluta. Geralmente a nossa reação é de se manter a distancia, jamais permitindo sua inclusão em nosso meio e, se possível, até hostilizando essa gente.
Discriminação média: Exemplo: contra os que se aproveitam da ingenuidade e ignorância de pessoas, e das que, por diversas circunstâncias, se acham impedidas de reagir. Todos os que de alguma forma entram em choque com os princípios que mais valorizamos. Exemplos: políticos corruptos e demagogos que roubam e enganam o povo, religiosos que tiram o dinheiro dos pobres nos supermercados da fé, malandros e enganadores em geral. Nossa reação é de desaprovação, porém nada concreto e eficaz é feito para impedir sua continuidade. Somos até capazes de receber essas pessoas em nossa casa por receio de, se recusarmos, sofrermos algum tipo de sanção; ou, no extremo oposto do espectro, apoiados por justificativas: “porque queremos tirar alguma vantagem”.
Discriminação leve: contra pessoas de diferentes níveis sociais (mais altos ou mais baixos que nós), empregados e subalternos, chefes e gente de alto nível social e financeiro se diferentes do nosso, membros de crenças diferentes da nossa, de times rivais de futebol, associações diferentes, etc., etc. Cabe aqui uma infinidade de exemplos. A família que tem empregada, chofer, jardineiro, etc. não convida esse pessoal para comer na mesma mesa, não espera que seus filhos se casem com eles ou com seus filhos, não discute com eles temas que conversa com amigos do mesmo círculo social. Da mesma forma uma empregada doméstica ficaria “sem graça” se fosse comer na mesma mesa que a patroa; ela também discrimina... Os patrões não vão à favela no aniversario do filho do motorista; o subordinado não é convidado nem costuma frequentar a casa dos gerentes e diretores da empresa.
Apesar da discriminação que nos impede convivência igual com pessoas diferentes (dentro do exposto acima) isso não significa tratar mal toda essa gente contra os quais discriminamos – exceto talvez no caso do primeiro ítem. Em princípio os tratamos bem e com consideração; porém a discriminação existe.
O problema é o preconceito e a discriminação por preconceito.
O preconceito significa pré julgar um grupo de pessoas porque nos disseram ou lemos que essa gente tem que ser discriminada sem uma razão muito clara, ou por uma razão inventada ou por alguma razão real e justificada que, entretanto, não existe mais. Não importa se essas pessoas podem ser classificadas em uma das três divisões acima, ou em nenhuma e são exatamente iguais a nós em tudo, portanto não existiria razão para discriminação. Elas são discriminadas e pronto. O preconceito nunca é dirigido a apenas uma pessoa como nos casos de discriminação normal, ele engloba todos os que pertencem à classe incluída no preconceito, sem distinção. Uma constante no preconceito é que ele se aplica aos dois lados. Exemplos: negros (pelos brancos), brancos (pelos negros), judeus (pelos cristãos), cristãos (pelos judeus), minorias (pelas maiorias) e vice versa, etc., etc.
Estudando a origem dos preconceitos sempre vamos encontrar uma razão lógica que justificou sua origem; essa razão pode estar perdida no tempo, porém o problema é que mesmo essa razão tendo desaparecido, eles continuam por inércia. É como o barco que continua deslizando na água depois de desligados os motores. Para não me alongar muito vejam o caso dos negros, onde até a simples palavra indicativa da cor pode ser ofensiva (para mim uma besteira, pois se não podemos descrever uma pessoa por sua aparência física: gordo, magro, baixo, alto, careca, cabeludo, homem, mulher, preto, branco, pardo, etc., como seria? Vamos cair no ridículo norte americano de “African American” que está errado por princípio pois todos os africanos que conheço – do Egito, Argélia, etc. – são brancos).
Como pensavam as pessoas em relação aos negros escravos? Se você tivesse nascido e se criado naquela época, não teria dúvidas que eram inferiores e que precisavam ser retirados da África para serem felizes... Vejam o que escreveu Johann Rugendas em sua grande obra ilustrada publicada em 1835 : “Viagem Pitoresca Através do Brasil” no capítulo “tipos e costumes”, entre outros, o autor INFORMA: ... “bem pesadas as coisas, os negros são beneficiados com sua transferência para a America ... diante da situação atual da África.... a America abre aos negros possibilidades que não seriam possíveis na África”. Mais adiante afirma que: “a verdadeira superioridade dos brancos sobre os negros não é unicamente exterior. ... talvez se explique por uma maior intensidade de sistema nervoso, por uma maior atividade de suas funções, uma harmonia mais perfeita em todas as circunstancias da vida... Todos os dias ocorrem coisas que .. provam uma superioridade real e física do branco sobre o negro que ESTE É O PRIMEIRO A RECONHECER”. Lendo isso e ouvindo a mesma afirmação de todos a sua volta, você teria alguma dúvida de que o negro é inferior e deve ser discriminado? Rugendas, a propósito, era uma pessoa instruída e de bons costumes. O preconceito contra os negros vem dai; hoje estamos bem informados sobre a realidade de que somos iguais em tudo, menos na aparência (se quisermos aprender essa verdade) e que diferenças sociais atingem todas as raças. As aparências não são as mesmas não apenas entre raças, mas até entre nós e nossos pais, por exemplo, exceto em gêmeos. Apesar disso, a discriminação por preconceito perdura em muitas sociedades e para muitas pessoas...
A solução? Educação, exemplo dos pais e educadores desde que esclarecidos, leitura, mudança de paradigmas, estar aberto ao dialogo e a novas idéias; enxergar a realidade sem se deixar influenciar pelos mal intencionados. Termos a sabedoria de reconhecer que não somos os donos da verdade e que devemos respeitar todos os seres humanos que merecem ser respeitados.
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10 comments:
Ih! Travei no último trecho: "devemos respeitar todos os seres humanos que merecem ser respeitados". Então, existe ser humano que merece ser desrespeitado?
Também ouvi que não houve escravidão no Brasil, porque na África um grupo "escravizava" o outro, então ficava elas por elas!
Boa semana, Mary.
Mary, todos os que se enquadram nos dois primeiros itens: discriminacao forte e media, na minha opiniao nao merecem respeito. Eu nao respeito esse tipo de gente.
Houve escravidao no Brasil sim, e na Africa tambem. Um erro nao justifica outro.
boa semana para voce tambem.
Shrek
Ah, então foi proposital esse trecho; fiquei pensando será que era uma oração subordinada adjetiva explicativa e faltaram as vírgulas ou era mesmo or. sub. adj. restritiva.
Ouvi que não houve escravidão de um político brasileiro, só podia ser!
Não sei se discriminaria, mas estaria um passo a frente das intenções deles...Abraço, Mary.
Pois eh, eu tb concordo que tem gente que nao merece meu respeito. E nunca me associaria a pessoas assim, entao se isso eh discriminacao, eu sou uma delas. bjos
Grande Shrek!
Teu post está muito bom e mexe com o tabu quase universal entre os povos.
Na verdade, todos temos o preconceito enraizado, mesmo aqueles que estão nos vendo, quer sejam negros, americanos, índios, europeus, etc e vic-versa. Em algum momento de nossas vidas, cometemos isto, mas se tivermos capacidade para enxergar-mos mais à frente nosso erro, tal coisa não se repetirá e, como vc disse, educando nossos filhos dentro deste conceito, também serão pessoas melhores.
um abração carioca
Uma das coisas que mais me chamaram a atencão aqui na Suécia foi justamente relacionada ao preconceito. No Brasil é muito branco x negro. Aqui existem muitas criancas adotivas por aqui (muito pelo fato de as suecas esperarem cada vez mais para terem seus filhos, entre outros motivos), muitas vindas de outros países. Percebo que esses negros/amarelos/pardos... são tratados de igual pra igual, por compartilharem a cultura e valores suecos, ensinados pelas famílias suecas. Já os estrangeiros, por mais loiros e brancos que sejam, sofrem ao menos discriminacão. Acho muito mais cabível uma discriminacão cultural do que racial, consigo entender muito mais fácil uma vez que as raízes não estão perdidas pelo passado, e sim na sociedade atual.
Bom post, bom tópico, mais uma vez.
Gente tenho procurado discutir temas polemicos e da atualidade; este forum eh muito bom para saber das opinioes das pessoas.
Porque na Suecia as mulheres nao querem ter filhos proprios e adotam criancas?
Voces tem sugestoes de outros temas?
Obrigado a todos
Shrek
Opa! Acho que houve um mal-entendido. O que tentei dizer foi que as suecas esperam mais e mais pra terem seus filhos (por questões profissionais e até de dificuldade em encontrar moradia, como deu no rádio essa semana) e por fim muitas não conseguem engravidar. Mas claro que essa é só um dos tantos motivos pra taxa elevada de adocões aqui.
Um tema polêmico a ser discutido é o aborto, te interessa? Lembrei disso por outro notícia daqui: 1/4 das gestacões acaba em aborto. Entre adolescentes, a taxa é de 80% de gestacões interrompidas pelo aborto. Algo impensável no católico Brasil.
Mariel, obrigado por esclarecer.
O tema aborto me interessa sim; vou preparar. Esse problema da religiao causa um impasse no Brasil: nao pode prevenir a gravidez, nem pode remediar. As jovens entao caem no aborto clandestino com risco de vida.
Um absurdo.
Eduardo, a questão do preconceito é muito ampla, e acho que ele nunca terminará. Por mais que ensinemos aos filhos, por mais que mostremos com exemplos, em um momento ou outro algum deles vai cometer o erro de discriminar. As próprias pessoas, cada um de nós, se discrimina (não indo a determinado restaurante, por exemplo, por ser "chic" demais, mesmo podendo pagar), ou usa do preconceito que o guardador do seu carro (caso raro aí na América)não merece sua atenção.
Não sei, acho que a gente malha com ferro frio, a humanidade nunca será realmente livre do preconceito nem deixará de discriminar uma pessoa.
Infelizmente.
Abraços.
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