Thursday, April 29, 2010

Restaurante Italiano

Prezados amigos blogueiros e blogueiras, depois do post científico anterior achei melhor aliviar um pouco e soltar o Shrek para novamente divertir vocês. O problema é que ele achou a história a seguir nos meus arquivos de viagem na seção um pouco apimentada. Pensei muito antes de publicá-la, com receio de magoar alguns ouvidos um tanto mais puritanos; porém, como estou lidando com brasileiros crescidinhos e vacinados, decidi correr o risco. Como dizia o poeta, não existe pecado no lado de baixo do Equador! Na dúvida, não leia! Por outro lado, como o efeito colateral é fazer vocês rirem sempre que entrarem em um restaurante italiano acho que vai valer a pena. Menores de idade: favor não lerem na frente dos adultos (eles pensam que vocês não “sacam” as entrelinhas, portanto vamos mantê-los nessa doce ilusão).

Nesta vida de viajante estou sempre me deparando com surpresas de certa forma previsíveis, mas às vezes surge o totalmente inesperado. Quando eu iria pensar que uma ida inocente a um restaurante poderia me levar aos meandros da vida noturna depravada da costa oeste dos USA? Pois foi o que me aconteceu em Abril de 1999.

Estava eu em San Francisco, ou melhor, em Oakland que fica no subúrbio e não é uma área de boa vizinhança, quando, após uma reunião longa e cansativa com meus clientes do Chile e Peru e os compradores americanos em um negócio de 10 milhões de dólares, decidimos que era hora de relaxar.
Já no carro e falando em castelhano, pois estávamos só nós, os latinos, decidimos ir a um restaurante italiano sofisticado. Nessa hora pensei em um daqueles cheios de protocolos, gente vestida elegantemente e desconfortável, e espera interminável por um prato com algumas migalhas todas muito bem arrumadas como a participar de um desfile de carnaval no sambódromo do Rio; porém em quantidade apenas suficiente para alimentar um passarinho. Já eram umas 10 horas da noite e, cansado como estava, eu teria preferido muito mais um rápido Mc Donalds e uma boa cama logo a seguir, mas negócios são negócios e lá fui eu agradar a los muchachos.

Chegamos a um lugar cercado por muitas árvores e jardins, e lá estava o tal restaurante com muitas luzes vermelhas na varanda, compondo uma decoração tipo velho oeste. Estranho, pensei, deveríamos estar indo a um restaurante italiano… Por outro lado, a decoração americana não raro segue padrões muito peculiares assim achei que era de se esperar uma aparência cowboy em uma casa de massas; afinal estávamos mesmo no oeste. Ao entrar surpreendi-me com a penumbra do local, fracamente iluminado por lamparinas nas mesas que mal davam para ver quem estava lá quanto mais saber o que estavam fazendo. Ambiente romântico pensei: o escurinho vai dar para descansar os olhos…

Eu deveria ter desconfiado daquele lugar logo que chegamos pelas luzes vermelhas lá fora e ainda mais quando, já na mesa, um dos clientes tirando o paletó, disse em castelhano que iria pedir ao garçom para agarrar o seu “saco”… achei esquisitice e muito fora de propósito; como poderia isso ser feito sem chamar a atenção dos outros comensais presentes? E os que estavam logo ao seu lado? O que iriam pensar? Certas coisas exigem privacidade e me surpreendi com essa falta de compostura num lugar tido como fino. Assim, por medida de precaução sentei-me com as costas contra a parede, pois nunca se sabe o que pode acontecer; a prudência recomenda defender os "países baixos" sempre que possível.

Depois das preliminares de costume, chegou a hora de pedir a comida, ou pelo menos assim pensei. Veio o garçom, um negão alto e forte, todo sorridente e disse que se não nos importássemos ele iria oferecer coisas melhores que não estavam no menu. Já se vê que tinha ali algo de suspeito, pois se eram boas, deveriam estar no menu, a menos que fossem sobras do dia anterior; ou será que ele tinha algo mais em mente? Concordamos em ouvir suas propostas, e aí começaram as surpresas.

Ele inicialmente perguntou se alguém gostaria de começar com "linguini alla putanesca". Imediatamente olhei ao redor para ver se os vizinhos das outras mesas tinham ouvido semelhante proposta. Sabe, não é que a idéia não me agrade; pode ser que o nome da putanesca seja Mônica e com esse nome sabe-se que existe know-how, pois até presidente dos USA balança, mas é que eu tenho preferências muito específicas por tal coisa e elas de maneira nenhuma incluem um homem - e jamais em público. Perguntei, então, quem iria providenciar a linguini, se era a própria Mônica ou uma amiga dela. O garçom, sem disfarçar, respondeu-me que seria ele, e isso sem se envergonhar do que estava falando; logo vi que é verdade o que se comenta da população gay de San Francisco. Mas oferecer assim tão naturalmente já era demais; de qualquer modo pensei que, se alguém estivesse a fim, tal prática seria feita em local reservado, portanto esperei que, passada a surpresa inicial, voltássemos ao assunto refeição.

Perguntei se não teria outra opção, para ver se ele se tocava, e ele então me disse que se eu não queria "linguini", então que tal um "penne all arrabiata". Bem, com isso ele passou das medidas, pois é claro que estava me ofendendo; além do mais, se não me animei por uma "linguini", é claro que "penne no rabiata" nem pensar. Eu tenho muito zelo pelo meu "rabiata" e lá somente o proctologista tem acesso, ainda assim raramente e com muitas restrições.

Logo vi que não estava num restaurante sério e sim numa casa noturna, e daquelas das mais escabrosas, sem show e que vão direto ao assunto. Comecei a me arrepender de ter sentado na mesma mesa de alguém vindo do Peru (o nome já diz tudo, não e?) e que disse ao garçom que pegasse o seu saco (e eu que pensava que ele não conhecia a área... Como a gente se engana!). Hoje penso que foi essa atitude inicial que animou o negão; sabe como é, uma palavra código e já se sabe o que o freguês quer.

Enquanto pensava, algo que o garçom falou me tirou das minhas divagações: ele estava dizendo "calzoni", "focaccia", "bruschetta", "bruschetta mista"… Tirar o "calzoni" e fazer o que? E eu pensei: como poder haver "focaccia" se a pessoa está "bruschetta", mas eles devem ter os seus segredos… Com certeza têm Viagra disponível. E o que seria uma "bruschetta mista"? Pelo menos deveria ser uma bacanal heterossexual, o que já era um bom sinal, porque de bichas eu já andava cheio.

"Prosciutto!" Exclamou o garçom. É a sua mãe, pensei eu! Onde já se viu ofender o cliente só porque ele não se decide? A seguir fomos agraciados com mais meia dúzia de propostas indecorosas semelhantes que eu não prestei maiores atenções, preocupado que estava em comer logo algo rápido e sair de lá antes que começassem a praticar toda aquela pouca vergonha. É certo que o lugar prometia privacidade; estava envolto em penumbra e nada se via, pois as velas nas mesas pouco faziam para iluminar o salão, mas mesmo assim podiam-se ouvir risos suspeitos de homens e mulheres em outras mesas não tão distantes da nossa. Sabe-se lá o que eles deveriam estar fazendo… Provavelmente toparam algumas das propostas dos garçons…

A pressão do nosso continuava! Ele insistia em que deveríamos querer um "antipasti", ou seja, nos chamou de animais. Um antipasti deve ser o lugar onde se fica antes de ir ao pasto, ou seja: o curral, que é onde o negão deveria estar. Será que não tem garçonetes nesse lugar? Pensei. Pelo menos as ofertas ficariam mais interessantes.

Lá pelas tantas chegamos a "tímbale di funghi" e "fusilli con pollo affumicato". Esse tal de "tímbale" com fungo deveria ser um de pouco ou nenhum uso, o que não é o caso do meu tímbale. Ou seja, não que a freqüência de uso na minha idade seja tanta, mas não dá para criar fungo nem bolor, e isso sem falar em questões de higiene no que sou muito exigente. Quanto ao "pollo affumicato" deveria ser um "pollo" bicha (efeminado), ou se não fosse, então algo muito parecido; só sei que também soava muito suspeito.
Nessa altura achei que os meus companheiros gostariam de ficar para as "linguini", "penne", e "focaccia" o resto da noite, assim, como só tínhamos um carro, sugeri que comêssemos logo alguma coisa, me deixassem no hotel e depois voltassem ou fossem a outro lugar. Parece que não me entenderam muito bem, em todo o caso deu certo, pois logo pedimos algo. Eu então pedi um inocente "spaghetti" que não tem como errar, mas, mesmo assim, o garçom que devia estar chateado comigo perguntou se era com muita ou pouca "salsa di burro". Eu entendi que por certo eu deveria ser mesmo muito burro por não estar querendo as coisas que ele tinha oferecido e resolvi não criar caso; porém recusei o molho dos burros e pedi um com molho de tomate mesmo.

Depois de todo esse vexame, comemos como se nada tivesse acontecido e logo fomos embora. De minha parte eu aprendi; de agora em diante vou evitar más companhias e principalmente convites de ir a restaurantes italianos, pois nunca se sabe o gosto dessa gente.
Maio 1999

9 comments:

Unknown said...

Hahahahahahahaha... a ultima vez que fui a um restaurante italiano com outro casal, a mulher bebeu vinho um pouco além da conta de jogou o guardanapo dela na careca de um senhor que estava sentado próximo à nossa mesa... rsrs. Mas isso nem se compara à saia justíssima que tu se meteu!!! rs

Lucia said...

Ai pai, voce passa por cada uma! Mas perai... deixa eu comecar dizendo que so estando em Sao Francisco ja eh caso de ficar suspeito em qq lugar que va. E voce devia estar mt cansado mesmo pra nao perceber uma casa dessas assim logo de cara.

Deixa eu adivinhar, seu "garcon" devia ser lindissimo, ne? A maioria dos gays sao very hot, desperdicio pra nos mulheres! bjos

Eduardo said...

Meninas, eu fiz voces rirem, entao atingi o objetivo. Por outro lado convem esclarecer uma coisa: este post eh uma parodia; trata-se de um restaurante fino italiano mesmo. Os desentendimentos ficam por conta do Shrek para divertir voces.
bjs

Lucia said...

Ahhh, entao nao vale! Pensei que tivesse sido essa loucura mesmo, rs. Eu sairia correndo sem comer. Hahaha, bjos

Mary said...

Ih, é mentirinha! Abç.

Eduardo said...

Mary, a historia eh real, o local tambem, apenas os trocadilhos foram arte do Shrek para divertir voces e se lembrarem na proxima vez que forem a um restaurante italiano
Na proxima comedia vou postar um fato real com todos os detalhes, mas antes colocarei um outro post cientifico e polemico; espero que gostem.
Boa diversao

Lúcia Soares said...

Eduardo, os nomes em italiano eram mesmo para se pensar em duplo sentido.
Muito interessante sua paródia. O bom humor é fundamental na vida.
A situação pode ser deveras hilária pra quem não "saca" um pouco de italiano, nem que seja somente da culinária.
Abraços.

Fernanda said...

hahahahahaha, o pior eh meu marido todo cabreiro quando nos oferecem Brazilian sausage no rodizio da churrascaria.

Eduardo said...

Fernanda, voces vao se lembrar de mim na proxima vez que forem a um restaurante italiano.
Um abraco
Shrek